O fim
“O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.” (Fernando Pessoa)
Eu desejo matar a morte e mandá-la para o Inferno.
Este ano (e ainda estamos em Julho) morreram 3 pessoas que me eram próximas. Fora as que conhecia (aí então é só fazer contas de sumir).
Com este número fabuloso até tremo só de pensar o que possa ainda mais vir.
Tive a “sorte” de perder o meu avô aos 31 anos. Só nessa altura conheci então a Senhora Dona morte, portanto já adulta. Mas, o que é certo é que ser adulta não ajuda em NADA lidarmos com o facto de nunca mais voltarmos a ver uma pessoa.
A palavra morte é feia e difícil de aceitar. As pessoas têm razão quando dizem: “Se ninguém morresse onde caberíamos todos?”, ou, “A vida é mesmo assim, faz parte do viver”, ou “tudo acaba”, blá, blá blá.
A palavra velório é muito feia. As casas mutuárias são feias. As pessoas todas a darem-nos os sentimentos é feio. A morte é feia. É tudo feio.
Como se não fosse já mau a morte em si, tudo o que a envolve é muito triste e deprimente, parece feito para deitar ainda mais as pessoas abaixo, para massacrar ainda mais.
Morre-se. Vela-se o corpo. Como que uma penitência, está-se um dia inteiro a olhar para uma pessoa morta e estamos sempre a olhar para ela porque sabemos que será última vez, como que a aproveitar os últimos momentos com ela. As pessoas mais afastadas do familiar sempre a olhar para nós, com aquela cara que todos nós já fizemos em algum lugar. É obrigatório dar os pêsames a todos os familiares próximos e agradecer a presença. O cortejo fúnebre; o funeral em si; as flores; o caminho até ao cemitério e a pessoa ser enterrada, as despedidas é tudo bastante deprimente e horrível. ODEIO.
Devia-se morrer e acabava logo ali.
O que me marcou mais neste dia até foi beijar o meu avô. Nunca tinha tocado numa pessoa morta, disse a mim mesma que nunca mais o faria e voltei a faze-locom a minha avó. Fiz aquilo com muita naturalidade e à vontade mas a sensação foi horrível. É como beijar uma pedra. É como se a pessoa que está no caixão não fosse a pessoa que conhecemos. Como se fosse um boneco. Até a cara é diferente.
Não me consigo despedir das pessoas.
Eu desejo matar a morte e mandá-la para o Inferno.